quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Sobre o trabalho - reflexões na banheira.


Estou levemente bêbada. Mas estou ciente do que estou escrevendo. Trabalhei ontem e hoje como uma doida. Lustrei mais ou menos 500 cadeiras, umas 100 mesas e mais uns 1000 talheres. Repus guardanapos, sacos de lixo, saches de açúcar e copos. Conversei inglês, espanhol e português (são 33 intercambistas do Peru, Argentina e Brasil). Comi camarões, salmão, molho funghi, arroz, feijão e bife (agora temos panelas para cozinhar em nossa casa e a Snowbasin nos alimenta muito saudavelmente). Tomei banho de banheira, degustando um vinho de 6 dólares e aqui estou para relatar a minha vida americana.

Estou pra tirar minha carteira de trabalho nos EUA e já tenho o certificado da Vigilância Sanitária. Sem colar, tirei a melhor nota (todos os brasileiros dão uma de esperto e falam português durante a prova sem que nenhum dos avaliadores consiga entender o que está sendo dito). Mas não sei nada além do que você e trata-se da regra universal da cozinha: lavar as mãos antes de qualquer tarefa, ever.

Aprendi a organizar eventos sociais na Snowbasin. A colocar taças, talheres, xícaras e a dobrar guardanapos conforme a etiqueta manda. Tudo muito chique e requintado, cheio de detalhes e centímetros contados. Adorei fazer isso e essa semana vou trabalhar durante um evento, servindo as ladies and gentlemens. Tirei fotos do salão que trabalho. É amazing. 





Aprendi que americanos não possuem o menor senso de dinheiro, economia, environment friendly e desperdício de comida. Adoram tomar sopa com bolacha farelenta que só atormenta nossas vidas de bussers; pra limpar é um inferno. Eles compram sanduíches enormes e nem sequer conseguem terminá-los. Alguns almoçam puramente batata-frita. Outros pegam saches e mais saches de molho apenas pra bonito (e a gente não pode reaproveitar nada que está numa bandeja suja; tudo vai pro lixo).

Estou aprendendo rápido muitas coisas da vida americana e estou adorando essa experiência. Os amigos daqui estão se tornando uma boa família. Ontem conversei com Louise e Gabriela por horas; coisas da vida, fofocas e desabafos. O Lucas, Andréia, Gabriela e Guilherme são amigos brasileiros que sem essa viagem jamais descobriríamos no Brasil. E os turcos Iko e Gazi são os melhores vizinhos do Park Avenue: queridos, abertos a conversar e conhecer novas culturas. Esses dias dançamos música turca e samba: uma boa combinação quando se quer fortalecer novas amizades. A noite, normalmente jantamos todos juntos. A cada dia, alguns folgam e outros trabalham. Cada equipe formada pela rotina da Snowbasin é muito bem aproveitada. Fiz amigas argentinas (Julia, Sofia e Melissa) e conversamos sobre nossos países e suas diferenças.  Na Argentina eles possuem vestibulares, mas quem tirar uma determinada nota entra na faculdade. As salas de aula possuem cerca de 100 alunos. As praias argentinas possuem a água muito muito gelada (e eles realmente adoram Florianópolis). E tem as filipinas que adoram dizer “Oinhê, Letícia” durante meu expediente de 
trabalho a cada topada nos corredores da cozinha. 

A vida anda agitada e a cada dia temos novidades e coisas diferentes. Estou aprendendo a aceitar as diferenças e viver com elas. E acredite: são gigantes as diferenças (eles não tem creme de leite aqui, dá pra acreditar?).

Isso tudo que coloco aqui são relatos de apenas 2 dias. Imagine só após 3 meses...
Quero escrever um livro para o mundo.

--- observação às 23h – horário de Utah
Agora, nesse exato momento estamos conversando com o Gazi, nosso amigo turco. Ele está nos contando seus costumes mulçumanos e detalhes da vida matrimonial. Como pode uma distância física mudar completamente a cultura de um povo? Como pode nós estarmos no mesmo quarto com três etnias diferentes, curiosos e amigos a fim do mesmo objetivo: viajar, trabalhar e conhecer a vida. É muito engraçado conviver com tanta diferença, independência e novidades.