sábado, 14 de janeiro de 2012

Um papo de religião e turismo, tudo misturado!

Quarta-feira (11/01).

Embarcamos no trem às 10:15am e fomos para Salt Lake City (o nome surgiu graças ao lago salgado que aqui temos). SLC é a capital de Utah. É também a cidade mais populosa do estado (186 440 hab., segundo o censo de 2010). Sua fama se deve ao turismo ao ar livre (vulgo Estações de Esqui). SLC também é conhecida por abrigar grandes e importantes centros bancários dos EUA. Já foi sede das Olimpíadas de Inverno de 2002 e a Snowbasin (onde eu trabalho) fez parte dos ambientes dos jogos.  Aliás, Utah vem de Ute que é o nome de um grupo indígena que aqui habitava.
Manuela, Rodrigo, Rodrigo e Julia.

Gabe e Sofia, no trem.

SLC é a cidade do ciclismo. O governo disponibiliza um mapa ciclístico ao moradores e isso se deve à prática de bike nas montanhas. Boatos que é comum. (Nunca vi, nem ouvi, eu só ouço falar). Saímos cedo de casa porque o plano era aproveitar bem o dia e voltar de noite. Éramos um grupo grande e ultra-animado (diga-se de passagem). Fizemos um passeio bem turístico com direito a muitas fotos, comida japonesa e fortes emoções.

Temple Square.
Temple Square – Igreja dos mórmons.

Para quem não sabe, aqui nos EUA 78% da população é mórmon. Dessa porcentagem, 60% reside em Utah.
Muitos possuem grande preconceito ao ouvirem ou verem pessoas ligadas à religião mórmon. De certa maneira, é um pouco complicado, mas ao mesmo tempo muito interessante. Complicado porque eles andam em duplas fazendo “missões” e quando te veem querem a todo custo conversar e pregar a palavra. Com educação, você consegue explicar que aquele não é o momento apropriado. Mas tudo pode ser encarado por outro ângulo: por que não conhecer um pouco dessa cultura já que estamos aqui?
Foi pensando nisso que visitamos o Temple Square. Trata-se de um ambiente realmente grande (ocupa mais de uma quadra) com capelas, museus, biblioteca, salas de conferências, galerias, milhares de salas lindas e muita história. Preparado(a)?
Sala dos presidentes.
A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias foi fundada pelo profeta Joseph Smith. Este homem, fazendeiro e sem nenhum estudo, recebeu revelações divinas e foi incumbido de transmitir tais mensagens ao povo. Veio do deserto e tornou-se uma figura extremamente carismática e influente na história americana. Lançou uma ideia que no fim tornou-se uma Igreja mundial. Não é pouca coisa, né?


Na Igreja mórmon eles possuem o presidente (que Joseph fora o primeiro) e mais dois conselheiros. A cada “gestão” fazem-se registros, estátuas e belas artes. Porém com a vinda crescente dos imigrantes católicos e a migração de protestantes de outros estados, estima-se que em algumas décadas a Igreja mórmon tornar-se-á minoria no estado americano. É a tal da globalização, né? No futuro será difícil encontrar algo em comum na humanidade que não seja o umbigo e o Ipod no bolso.


Há muitas semelhanças entre o catolicismo e os mórmons. Ambos acreditam em vida após a morte. Os católicos creem no paraíso. Os mórmons em outro tipo de ascensão - depende da vida terrena de cada um escolheu pra si. 

O livro dos mórmons é um registro sagrado dos povos da América. Suas escrituras foram preservadas em lâminas de metal, revisadas por Joseph e hoje regem a crença dos fiéis. Divide-se em Placas Menores de Néfi, Placas Maiores de Néfi e, por fim, o livro de Morôni. Não li, mas acredito que seja algo parecido com Antigo, Novo e Apocalipse. Perdoem-me se estiver enganada. Fica a sugestão de pesquisar mais e entender melhor!


Quando Joseph faleceu (assassinado por uma turba), um Obelisco foi construído em sua homenagem. Como ele viveu 38 anos (1805-1844) o monumento possui 38ft. (aproximadamente 11,6 metros). Cada foot para cada ano.


Painel da entrada.
Como eu disse, o Temple Square possui diversos ambientes. Logo na entrada havia um painel enorme; moderníssimo. Totalmente touchscreen e com direito a tour e detalhes sobre cada cantinho da praça. Além disso, há um museu aos visitantes não-mórmons. Tudo isso porque dentro do Templo não é permitida a entrada de qualquer pessoa. Somente mórmons que fizeram seus votos (batismo, confirmação, sacerdócio/ordenação, lavagem e unção, investidura e vedação) podem entrar. Detalhe: é preciso seguir a ordem citada dos votos para ser considerado um mórmon de verdade.  


Mesa do arquiteto Truman.
A ideia de construir um templo é que esse espaço físico é uma forma visível da fé ao povo. Para os mórmons, o templo é um monumento onde se pode sanar dúvidas, entender um pouco mais sobre a vida e o que nós devemos cumprir/fazer para garantir uma vida eterna com Deus.  Esse templo que estou descrevendo levou 40 anos para ser construído (sua construção finalizou-se em 1893). Na época não havia máquina; tudo fora feito pelas mãos dos membros. Suas paredes são todas de granito. Representações dos projetos e da mesa do arquiteto estão à amostra.


Maquete do Templo.
No museu havia uma maquete do Templo (para os visitantes curiosos saberem como é o seu interior). Sala do batismo com uma mini-piscina para mergulhos semelhantes ao do João Batista. Sala de casamento, sala do mundo (com cada centímetro da parede pintada, parecia uma selva), sala de tudo que você imaginar. A réplica era perfeita. Cada detalhe foi minuciosamente representado. Mais painéis touch estavam disponíveis com direito a vídeos e fotos para o e-mail pessoal dos turistas. Modernidade aqui é coisa à toa.     


Ao topo da Igreja principal tem-se um anjo de ouro. No museu apenas uma réplica. No terraço do museu de um lado tem-se árvores que nascem nas montanhas (a ideia é valorizar a cidade repleta desses cenários rochosos); do outro lado tem-se flores de todo o mundo. Ao fundo, um paredão de pedra oriunda do Brasil. As inscrições dizem que qualquer nacionalidade é bem-vinda; somos todos da mesma família.

Vista do Templo.

De outro ângulo, o Templo.

Museu ao fundo. Na foto argentinos e brasileiros.

Templo.


Terraço do museu.

Paredão.

Vista do terraço.

Árvores e flores.

No pátio havia um espelho d’água enorme. Uma capela onde são realizadas cerimônias de casamento. Bem na hora que estávamos lá, estava acontecendo uma confraternização. Bem lindinho o casal, mas fiquei com pena da noiva de vestido naquele frio. Quero me casar no verão, por favor.

Espelho d'água.
Centro de Convenções.
Mas o mais incrível foi o Centro de Conferências. Nele cabem 21000 pessoas (é maior que o estádio de basquete). Recentemente ele foi usado por futuro candidato à presidência dos Estados Unidos.

No palco um órgão que é usado pelo Coro do Tabernáculo da Igreja. Esse coral é famoso em todo o mundo e conta com mais de 300 cantores de diversos lugares do planeta.  


Segundo o The New York Times, agora é um grande momento da religião mórmon. Os dois candidatos que foram indicados pelos republicanos a para concorrer à presidência são mórmons. A autora do Crespúsculo é mórmon. Se eles estão certos ou errados, são corretos ou deixarão de existir, não sei. Se a grandiosidade do Templo e o fundo financeiro da Igreja vão contra os votos de humildade que esperamos dos religiosos, depende de cada ponto de vista. Cada um deve saber o que faz e no que acredita. O respeito pelas culturas, religiões, sexo e política deve sempre prevalecer.


O que eu sei é que o passeio valeu a pena. A beleza é indiscutível.  O conhecimento foi bem armazenado; nas fotografias, na memória, na minha agenda (inseparável) ou aqui no blog. Faço da minha admiração essas palavras.