quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Capítulo final de Las Vegas - Cirque du Soleil e a volta por Arizona

Saí em direção ao meu compromisso com o Cirque Du Soleil com os passos apressados e uma sensação estranha no peito. Estava prestes a realizar um sonho. Parece bobeira e coisa fútil, mas misturar circo com Beatles é uma ideia brilhante e que merece um Nobel, na minha opinião.


No corredor do Hotel The Mirage tinha vontade de gritar pra todo mundo: “Eu vou e você não”. Mas percebi que muitos dos turistas ali presentes tinham o mesmo objetivo que o meu. Na entrada havia tanta gente que mal conseguia fotografar os cenários sem um cabeção na minha frente. Os staffs estavam a caráter. O bar possuía comida e bebida temática. A infraestrutura do teatro é absurda e fixa. Não consigo crer até agora no investimento que o Cirque du Soleil faz para manter todos os espetáculos permanentes em Vegas. Se bem que fica fácil acreditar ao reler o recibo. Todas as peças lotam, apesar do preço extremamente alto. Havia uma loja dos Beatles que deixei para o final. Não é caro, mas é tentador. Tem de tudo. Camiseta, botton, caneca, adesivo, chaveiro, cds, lps, canecas, enfeites, carteiras, bolsas, casacos, agenda, cadernos, porta-bijuteria, submarinos de miniatura... Como o capitalismo é forte nesse país e como as pessoas são espertas em se aproveitar disso. Burra sou eu que gastei 50 dólares, mas sem regrets. Afinal, tudo era um sonho e precisava levar comigo algo que me fizesse crer na certeza de que aquilo era, sim, a minha realidade.





Entrei e sentei na minha adorável cadeira com meu gracioso copo de 700ml dos Beatles. Paguei U$123,50 pela melhor cadeira que encontrei. Apenas 4 filas na minha frente e numa posição bem centralizada. Era como se os atores estivessem se apresentando diretamente para mim.

O palco era num formato de X e é claro que isso não permaneceu até o fim. Cenários subiam ou desciam e compunham o contexto com muita veracidade. Armações e suportes que vinham do teto, atores que surgiam pulando, voando, correndo, dançando. A expressão corporal e flexibilidade desses artistas é de fazer inveja em qualquer Ana Botafogo.
Entrou o frequente personagem gordinho e careca. Fez as devidas recomendações. Câmeras e celular são expressamente proibidos. E o público respeitou isso do começo ao fim.

A abertura foi com o palco em X e quatro telões enormes que pendiam do teto até tocar o chão. Era na verdade um tecido bem fino e branco que retransmitia as imagens do projetor. Começou “Girl” e os olhos já brilharam. Havia mais duas telas fixas que decoravam o fundo de cada música e apresentação. Nas quatro aberturas do X havia um bailarino, escalando a corda. Em certo ponto eles pararam e fizeram o passo que no circo chamamos de "à grega". Soltaram um pouco a corta e caíram em queda livre por alguns metros. Fecharam as pernas e a corda novamente se prendeu entre os membros inferiores, garantindo a segurança e o suspiro do público.  

Apareceram os quatro beatles, ("Get back") cada qual num tecido; um estampido forte ecoou enquanto uma luz azul rompia a escuridão. Os panos caíram e os olhos brilharam. O show começou e as primeiras lágrimas rolaram.  

O cenário escureceu, uma fábrica quebrada com um relógio destruído. Naquela época, o tempo se arrastava e os ponteiros não se mexiam. Era muita confusão ("Helter Skelter"). A Segunda Guerra Mundial foi o maior retardo na história da humanidade e para alguns, a explosão beatlemaniaca salvou a monotonia da vida de alguns jovens ("I want to hold your hand"). Consagrava-se assim o início dos Beatles em 1950 (cinco anos após o fim da Guerra).   

Os shows eram animados, muitas cores, muitas garotas. Homens apaixonados caminhavam com flores. Garotas balançavam nas cordas, num vai e vem dos elásticos. 

Eis que duas pistas bem altas permitiam o impulso e a conquista de grandes saltos através dos patins. Eram 4 atores, cada qual inspirado em seu personagem. Help inspirou-os a mostrar-nos todo o talento que eles possuíam. Aclamados com aplausos e prendendo o fôlego, captei cada acrobacia. 

No meio, era um vai e vem de cores e luzes que extasiavam a mente. Vídeos engraçadinhos e brincadeiras entre os quatro músicos. Havia uma pitadas de Nonsense que me lembrava Alice em seu país. Num jogo de luzes, vi a Abbey Road e vários sons misturados. 

O melhor de tudo foi a mudança de mundos ou ambientes; e de maneira tão profunda. Num mergulho enxerguei o oceano. Um tecido branco bem fino que do meio do palco surgiu, cresceu e foi cobrindo a platéia. Um vento balançava e criava ondas onde o Yellow Submarine navegava. Animais do fundo do mar foram detalhadamente representados no Octupus's Garden com diversos animais brilhantes e flutuantes. Balança a cabeça e deixava as mãos cobrindo a boca. Estava sozinha, mas ao mesmo tempo senti-me extremamente acolhida. Ao meu lado, um senhor de 60 anos batia os pés no chão ao ritmo da música. Tantos anos entre nós e aposto que mesmo assim saberíamos descrever com as mesmas expressões aquele show. 

Bolhas de sabão e eis que chega o dia. Here comes the sun, bem amarelo, com velas no chão. Parecia queimar a pele de tão forte que eram suas cores. De repente tudo escuro, pontos cintilantes que pareciam diamantes para a Lucy in the Sky.

Já havia passado 80 minutos e nada das minhas prediletas músicas. Eis que presencio o melhor fechamento que poderia imaginar. Tirei as costas da cadeira e aproximei o rosto alguns centímetros. Hey Jude acalentou um menino bem pequeno sentado numa cama, enquanto uma dama de vermelho pairava no ar suspensa por uma corda. Vários personagens com figurinos cheios de minúsculos detalhes iam entrando. Os guarda-chuvas ajudavam os confetes que choviam a enfeitar ainda mais aquela cena. Foi a música mais colorida, se é que assim posso abusar da sinestesia. 


E por fim, minha maior alegria. 

Sempre fui muito sistemática e racional. Sempre quis uma explicação para qualquer acontecimento, fosse ele físico, emocional ou divino. Por mais clichê que pareça, quando falo a palavra amor, muitos se cansam sem nem sequer pensar direito - pelo seu sentido usual e abusivo, atrelado ao vermelho, aos casais e dia dos namorados. O amor, para mim, vai muito além disso. O amor, quanto adicionado ao dia-a-dia, quando temperado no seu trabalho e acrescido no seu café da manhã muda completamente a cor e a beleza dos dias. O amor, quando encarado de maneira positiva e cultivado em diversos relacionamentos, fortalece o que aprendemos desde pequenos e poucas são as vezes que soubemos aplicar. O amor, não apenas o romance em si, mas o amor na vida e em tudo que você faz possibilita viver essa existência com um quê de sabedoria. E é por isso que essa música se tornou tão especial para mim. Um dia, lendo as letras a procura de uma frase bonita para um cartão, não conseguia decidir e optei pela música por completo. Para representar isso em poucas palavras usei do título (e da metonímia) pela poesia na íntegra.  E aquilo de simples música tornou-se lema. De simples melodia, estímulo. De simples palavras, uma direção. A tradução daquela ideia é perfeitamente o que sempre quis explicar, mas nunca encontrei as palavras certas. Alguém fez isso por mim, muito antes de eu nascer. Para mim, não existe impossível. Não existe nada difícil. As pessoas riem e debocham.  E eu respondo: é fácil. Acham um absurdo. Chamam-me de absurdo.  Dizem que não sabem como fazer. E eu digo: você ainda pode aprender com o tempo. Porque não há nada que você queira, que não possa ser feito. Queira salvar, que não possa ser salvo. Qualquer desafio, sofrimento, dúvida, desapego ou medo pode e deve ser superado. Com amor, pois é tudo que você precisa. 
  
Houve muitas outras músicas, mas se eu continuar descrevendo vou estragar a imaginação de vocês. Se um dia você assistir a tudo isso, espero que desfrute da mesma maneira que eu saí de lá: completamente feliz e realizada. 

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Na viagem de volta o sol nos permitiu algumas fotografias bonitas. Eis uma lista de recomendações e conclusões que tiramos ao final da viagem. Mesclado com muitas fotos, claro. 

  1. Não dirija em Vegas, vá sempre a pé. A paisagem merece a tranquilidade dos passos e as fotos agradecem;
  2. Carregue seus documentos nos bolsos e cada um o seu; a amizade é linda, mas ninguém precisa andar colado. Se um quer ir para a direita e o outro para esquerda é importante cada qual possuir seus pertences aonde quer que vá;
  3. Desista dos cassinos, eles só roubam seu dinheiro;
  4. Consiga convites VIPs ou telefones de promoters para entrar nas festas sem pagar. Na primeira hora da balada as meninas bebem de graça;
  5. Coma bem no almoço e na janta algo bem leve; normalmente você bebe mais de noite e não vai querer passar mal;
  6. Quando estiver fazendo um boletim de ocorrência na Polícia insista para seus amigos ficarem no carro; risos e conversas altas não são bem vistas aqui nos EUA;
  7. Ao acordarem, não tomem banho: isso rouba duas horas do seu dia, pois o grupo é grande e sempre tem um Lucas que demora mais tempo que os demais;
  8. Para as mulheres é fácil se arrumar de noite: um vestido bonito, muita maquiagem, salto alto na bolsa e sapatilhas no pé. Sim, sempre caminhe com algo confortável;
  9. Para os homens, não esqueçam dos sapatos sociais e camisas coloridas;
  10. Leve um dinheiro extra, mas saiba que Vegas não é tão cara assim. Tem boas promoções nos hotéis e o aluguel de carro compensa muito. Num geral, com 200 dólares dá pra passar bem 3 dias. Eu gastei isso e mais um adicional de 330 devido aos Beatles, aos alargadores lindos que achei e porque não sei me controlar diante das compras. 












Valentine's Day (inspirado em La Liste, Rose)

No clima romântico desse país, uma crônica fictícia da mais pura realidade. 
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Mais uma vez o cheiro amargo e preto do café entrava pelas narinas querendo fazer daquela situação uma referência à rotina. Mas a palavra menos usual na vida deles era essa. Acordavam atrasados e com as roupas jogadas ao lado; vestígios de uma noite inspirada. Dentro de duas canecas fundas com alguns pares de colheres rasas cheias de açúcar o dia começava com um sabor mais doce; e o dia amanhecia para todos. O sol ascendia e aquecia os que caminhavam na calçada. O vento circundava as avenidas e entrava pelas janelas entreabertas dos carros. O amor estava no ar. Parecia mais um dia normal, mas não. As pessoas nem desconfiavam que, ali confinados no segundo andar daquela casa, acabava de acordar o casal mais apaixonado do mundo. 

Ela vestia as roupas justas e maquiava o rosto amassado pelo travesseiro, enquanto ele lia as notícias no jornal monocromático. Ela corria contra o tempo com medo das consequências do atraso; com que ele já estava acostumado. Ela ria e lembrava da noite anterior - com palavras soltas remontava o filme, o vinho tinto, o molho branco (com noz moscada) e a consistência do penne. Ele agradecia e fazia juras que na próxima vez iria cozinhar. O amor entre eles era forte e crescia numa escala incalculável. Por várias vezes tentaram montar e descobrir essa fórmula, mas que se danem os alquimistas: o resultado era concreto (e isso é o que importava na vida deles). 

Seguindo as tendências da humanidade (quando os fatos são não-compreensíveis) aceitavam que aquilo era divino. E se os anjos assim queriam, eles estavam dispostos a viver naquela felicidade à qual foram condenados. Saíam porta afora. Ele com as chaves, ela com as bolsas. Ambos com carteiras de motorista, apenas um deles confiante na condução. Havia muitas piadas, memórias e até um pneu furado no porta-malas. As experiências deles dois juntos foram extraordinárias. Inúmeras e todas elas risonhas. Mas aquilo não era nada; ainda aguardavam muitas outras que estavam por vir. Sempre com um lado otimista, não deixavam nenhuma nuvem criar tempo ruim naquele cenário amoroso. A percepção deles mudava as cores e adicionava brilho ao contraste daquelas imagens. Quem via de fora achava tão normal, quem estava dentro tinha muito mais para concluir.

No caminho do trabalho ela fazia planos de comprar um cachorro, colocar cores na parede e listava o nome da primeira filha. Ela sonhava alto, imaginava muito, queria toda a felicidade. Tinha o sonho de um dia saber tocar violão enquanto pensava em fazer compras do mercado depois do trabalho (e ainda queria sair para dançar de noite). Ele olhava tudo aquilo meio abismado, apaixonado. Seria verdade toda essa paixão? Até quando seria assim? O tempo caminhava de maneira tranquila entre eles. Passavam dias como se fossem anos, isso porque o amor se fortalecia a cada segundo. Cada gesto impressionava, cada palavra agradava. Mais. O que um dia fora admiração hoje era realidade. Estava ali a(o) musa, estava ali o melhor exemplo de todos os tempos. Estava ali a amizade, estava ali o amor perfeito.

O que ele não sabia era que ela era mentora de tudo aquilo. Ela havia arquitetado a vida toda aquela relação. Não propositalmente, mas inconscientemente. Havia idealizado todos aqueles jantares e havia memorizado todas as palavra doces que um dia gostaria de sussurrar. Ela havia guardado as melhores ideias para um dia apresentar ao verdadeiro amor. Ela sonhava todas as noites e mentalizava durante o dia todo: era ele, tinha que ser ele, será com ele. O que ele não sabia é que ela estava completamente apaixonada, até então e para sempre. O que ele não sabia, até então, é que aquilo tudo era perfeito para ela. Até então. Porque agora, meu bem, você acaba de ler a mais pura verdade entre a gente.

Te amo hoje e em todos os outros dias da minha vida.     
Happy (6) Valentine's Day para você.