segunda-feira, 4 de abril de 2011

Metaformose Leminski

A vida é um ruído em meus ouvidos.



Usufruindo de histórias dramáticas recheadas de amores, traições ou então, medos; a ideia básica da peça é desmascarar e comparar a franqueza dos deuses e heróis gregos com a realidade humana. A iconoclastia é irreverente e abusa de um texto escancarado com atuações excelentes.

É muito bem representado, com excelentes detalhes.
A luz, ora forte, ora fraca. Ora aberta, ora fechada. A câmera filmando ao vivo e jogando as imagens na parede, nas costas dos atores. A ideia é ter espelhos para que todos possam se olhar e enxergar a verdade que por vezes não é clara o suficiente. A trilha sonora da máquina de escrever denota atenção ao documentar aquele ótimo ato. Há presença da música e de ótimas vozes. E claro, o humor para conquistar a platéia e nos manter animados.
A criatividade rola solta e faz uso de simples itens para compor cenários complexos. Um emaranhado de cordas se torna um labirinto. O chão de azulejo verde com a luz amarela de repente é uma fonte. E as manchas realmente se parecem com as leves ondas que o vento forma na superfície. A bacia com água é claramente o espelho onde Narciso se admira. E ele é promíscuo, abusando de sua própria imagem e amando-se loucamente. O pequeno fio contorcido é a linha da vida do Eco. Que inicia, se enrola em Narciso e por fim, tem seu triste destino. O globo ora sol, ora lua. O rosto no papel ora Deus, ora Paulo. As cadeiras em círculo mostram uma reunião, um debate, uma conversa e a disputa por atenção. 


E a conclusão? A transformação é constante. Todos estamos sujeitos a metamorfoses e metaformoses. A mitologia parece tão distante, tão inatingível, mas Paulo consegue ver isso mais próximo. E através de pequenos detalhes e linguagens transmite o que interpreta das personalidades nos seus grandes personagens.

Mas o que também não passa abatido é outro sentimento que sempre se apodera dos bons corações e gera diversos sentimentos e dúvidas: o medo. Na peça, o maior medo dos personagens é de ser pedra. O medo de não ser ninguém. De nunca se transformar. De não ter uma metamorfose ou nunca se formar. Mas que no fim, se pararmos para pensar, há uma saída pouco óbvia: o esquecimento, o flash back é uma ótima maneira de se manter vivo. 
Pois veja, através de uma pedreira, Paulo Leminski se mantém vivo e ícone na literatura e na arte.

Tenho certeza que iniciei meu Festival com o pé direito. 

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