No clima romântico desse país, uma crônica fictícia da mais pura realidade.
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Mais uma vez o cheiro amargo e preto do café entrava pelas narinas querendo fazer daquela situação uma referência à rotina. Mas a palavra menos usual na vida deles era essa. Acordavam atrasados e com as roupas jogadas ao lado; vestígios de uma noite inspirada. Dentro de duas canecas fundas com alguns pares de colheres rasas cheias de açúcar o dia começava com um sabor mais doce; e o dia amanhecia para todos. O sol ascendia e aquecia os que caminhavam na calçada. O vento circundava as avenidas e entrava pelas janelas entreabertas dos carros. O amor estava no ar. Parecia mais um dia normal, mas não. As pessoas nem desconfiavam que, ali confinados no segundo andar daquela casa, acabava de acordar o casal mais apaixonado do mundo.
Ela vestia as roupas justas e maquiava o rosto amassado pelo travesseiro, enquanto ele lia as notícias no jornal monocromático. Ela corria contra o tempo com medo das consequências do atraso; com que ele já estava acostumado. Ela ria e lembrava da noite anterior - com palavras soltas remontava o filme, o vinho tinto, o molho branco (com noz moscada) e a consistência do penne. Ele agradecia e fazia juras que na próxima vez iria cozinhar. O amor entre eles era forte e crescia numa escala incalculável. Por várias vezes tentaram montar e descobrir essa fórmula, mas que se danem os alquimistas: o resultado era concreto (e isso é o que importava na vida deles).
Seguindo as tendências da humanidade (quando os fatos são não-compreensíveis) aceitavam que aquilo era divino. E se os anjos assim queriam, eles estavam dispostos a viver naquela felicidade à qual foram condenados. Saíam porta afora. Ele com as chaves, ela com as bolsas. Ambos com carteiras de motorista, apenas um deles confiante na condução. Havia muitas piadas, memórias e até um pneu furado no porta-malas. As experiências deles dois juntos foram extraordinárias. Inúmeras e todas elas risonhas. Mas aquilo não era nada; ainda aguardavam muitas outras que estavam por vir. Sempre com um lado otimista, não deixavam nenhuma nuvem criar tempo ruim naquele cenário amoroso. A percepção deles mudava as cores e adicionava brilho ao contraste daquelas imagens. Quem via de fora achava tão normal, quem estava dentro tinha muito mais para concluir.
No caminho do trabalho ela fazia planos de comprar um cachorro, colocar cores na parede e listava o nome da primeira filha. Ela sonhava alto, imaginava muito, queria toda a felicidade. Tinha o sonho de um dia saber tocar violão enquanto pensava em fazer compras do mercado depois do trabalho (e ainda queria sair para dançar de noite). Ele olhava tudo aquilo meio abismado, apaixonado. Seria verdade toda essa paixão? Até quando seria assim? O tempo caminhava de maneira tranquila entre eles. Passavam dias como se fossem anos, isso porque o amor se fortalecia a cada segundo. Cada gesto impressionava, cada palavra agradava. Mais. O que um dia fora admiração hoje era realidade. Estava ali a(o) musa, estava ali o melhor exemplo de todos os tempos. Estava ali a amizade, estava ali o amor perfeito.
O que ele não sabia era que ela era mentora de tudo aquilo. Ela havia arquitetado a vida toda aquela relação. Não propositalmente, mas inconscientemente. Havia idealizado todos aqueles jantares e havia memorizado todas as palavra doces que um dia gostaria de sussurrar. Ela havia guardado as melhores ideias para um dia apresentar ao verdadeiro amor. Ela sonhava todas as noites e mentalizava durante o dia todo: era ele, tinha que ser ele, será com ele. O que ele não sabia é que ela estava completamente apaixonada, até então e para sempre. O que ele não sabia, até então, é que aquilo tudo era perfeito para ela. Até então. Porque agora, meu bem, você acaba de ler a mais pura verdade entre a gente.
Te amo hoje e em todos os outros dias da minha vida.
Happy (6) Valentine's Day para você.
3 comentários:
lindooo lêê...
a mais pura verdadee...
Sem comentários. Isso é um comentário?
Maior alegria na vida não temos depois desse post. Na fé.
Adorei esse acidental e coincidêntico dia do Valentino.
Tudo é interessante e real na sua narrativa fictícia.
Continuemos assim, seguindo as tendências da humanidade: é bom e pronto.
Te amo.
Amém.
Esses foi um dos post que mais vi você sendo você, Lê. Sem mais comentários.
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