Cheguei em Dallas, no Texas às 06h30 da manhã. Até então achava a viagem tranqüila e que iria suportar a tudo isso. Até a Luísa e o Ricardo que foram comigo no aeroporto, disseram que eu estava demasiadamente calma. E estava até pisar em solo americano. Quando sai do avião e realizei minha presença, eu - Letícia Akemi -, numa terra estrangeira, senti muito medo. Senti medo de não conseguir me comunicar. Medo de não achar o caminho porque as placas eram todas em outra língua. Medo de não me achar por estar tão perdida. Fui seguindo a multidão e passei por todas as etapas tranquilamente. Quando você pisa pela primeira vez num território americano, precisa passar pela imigração, alfândega, raio-x e apresentar os formulários. Precisa explicar para eles porque está querendo entrar no país deles, tão amado e idolatrado. Tudo isso pra ganhar um mero carimbo: ADMITTED.
Dali tive que pegar minha mala numa esteira para colocar em outra. O porquê não entendi até agora. Acho que era um teste de resistência do qual eu não passei. Tive que pedir ajuda para um homem pegar minha mala. Se a minha mãe ler isso, tenho certeza que vai pensar: eu falei que era coisa demais pra se levar, menina?
De lá fui para o terraço do aeroporto, onde passava o “trem” que faz as ligações dos terminais. Tudo aqui é bem esclarecido e quando não é, tem alguém pra ajudar. Ou eu é quem estava com cara de perdida desesperada? Enfim, consegui achar meu caminho e sentei na maior paz de espírito. Eram ainda 8h30 da manhã e eu só precisava me apresentar às 09h40 no portão de embarque. Vou é tomar café da manhã.
Olhei uma loja, olhei para a outra. Numa nem preço tinha o cardápio de parede. E todos pareciam saber de cor o que queriam e quanto custava. A atendente mal ouvia as palavras do pedido e já saia gritando. E eu nem consegui entender o que era aquele pão. Era estilo um Subway, porém redondo. Tinha de turkey e eu não conseguia lembrar o que era mesmo isso. Era carneiro ou peru?? Sai fora. Procurei na lista dos restaurantes onde tinha algo conhecido: Mc Donalds.
Típico de americanos, comi um pão com ovos e bacon. O café era horrível. Voltei pro portão, embarquei e dali foi bem rápido. Poucos pensamentos. Estava muito ansiosa. Estava chegando. Finalmente. Encontraria fácil a pessoa que iria me buscar? Louise e Gabriela estariam lá? E a minha mala? Se perderia na viagem como a da Louise?? Enfim. A viagem custava a passar e eram apenas 2 horas que eu deveria aguardar. Pareceram anos. Era só nuvem, nuvem, nuvem. De repente vejo neve. Montanhas. Meu Deus! Cheguei em SLC e agora é pra valer: cheguei em minha futura cidade pelos próximos 100 dias. Cheguei ao meu destino onde farei o possível para me encontrar e ser feliz.
12h – Cheguei em SLC. David, quem foi me buscar, estava com uma placa em mãos. Sempre quis ver alguém a minha procura com uma placa. Só poderia ter sido com o nome certo, ao invés de Laticia. Mas ok (nos EUA eles dizem OK a cada 0,5 segundos). Aqui, ninguém consegue pronunciar o TÍCIA. Todos dizem: tíschia. Algo assim...Sei lá por que. Mas o LE eles aprenderam, né David?
Fui conversando e tirando fotos o caminho todo. Queria saber da cidade onde iria morar: tem cinema, museu, teatro, shopping, supermercado? O que eles fazem a noite, como vamos trabalhar? Quem fundou a estação de ski, costuma nevar? Onde você mora, gosta daqui, já foi ao Brasil? Estava muito ansiosa, meu primeiro diálogo em inglês. Péssimo. Mas sei que vou melhorar.
13h00 - Cheguei à Estação. Deslumbrante. É enorme, cheia de detalhes e toda requintada. Com lustres enormes do tamanho de uma mesa, avaliados em mais ou menos U$ 700 000,00. Segundo Andrew, um dos lustres era tão caro, tão precioso, que a empresa da Itália se recusou a trazer para os EUA aquela raridade caríssima. Ears, o dono e fundador do Snowbasin comprou a empresa dos lustres, trouxe o lustre para cá e vendeu a empresa logo após a sua aquisição audaciosa. A dúvida é: puro capricho ou determinação?
Snowbasin sediou um Olimpíada e parece ser bem legal. Cristian, o chefe principal é bem engraçado, mas o seu sotaque francês me confunde demais na pronuncia do inglês. São 3 restaurantes ao todo no parque e o meu serviço só começa na quinta-feira, dia 08 de dezembro.
Até lá terei que abrir uma conta bancária, conhecer a cidade, comprar o que falta. Preciso fazer meu check-in com o Sponsor, Security Card e uma tirar uma licença pra vender e tocar em bebidas alcoólicas.
Uma coisa que aqui descobri é que os americanos seguem muito as regras. Seguem MESMO. Se você não tem 21 anos, não pode nem carregar a cerveja da geladeira para o expositor aos clientes. Se você assina um contrato, não há aquele jeitinho de depois remediar. Se o seu troco é de 1 centavo, eles vão te devolver. Se você não vai receber por hora extra, dando o horário do expediente as pessoas viram as costas e vão embora sem terminar o serviço. Aqui é assim e funciona.
Conheci todos os setores, esconderijos e locais de trabalho. Consegui a equipe que conta com brasileiros, filipinos e um menino turco. Os peruanos e argentinos estão por vir. Será uma miscelânea étnica absurda. Mas vai ser lindo conhecer a todos.
Aqui é engraçado porque apesar da bagunça de países o inglês é universal. Quando estamos num grupo maior, apesar da maioria ser brasileiro, nós conversamos em inglês. Isso por dois motivos: um para treinar e outro por educação, pois se falamos português tem um que não entende e pega mal. As únicas situações em que falamos português é para perguntar algo que não entendemos ou falar mal (xingar mesmo). A situação é bizarra: passa um menino que todos odeiam. A menina pergunta a idade dele e ele responde. No que ele segue o caminho, sem nem sumir da nossa vista, uma pessoa já comenta: que piá babaca. E ele nem sequer olha pra trás. Isso é que eu chamo de língua branca, a mais poderosa arma de todos os tempos. E é assim o dia todo. A pessoa está no nosso lado, sendo ela americana ou de outro país, as pessoas não estão nem ai. Falam mal da pessoa olhando pra ela. Eles riem e a vítima do assunto ainda ri junto. Não é um absurdo? Mas é uma vantagem, né?
De noite, nos flats, nos acomodamos e pedimos pizza. Tudo é barato quando se trata de bugiganga, fast food e itens de marca. Já vi uma caixa com 32 Kinder Ovo por U$ 16. Vi filmes em Blue-ray por U$4 (originais). Livros por U$ 9 (e best-sellers). Vi óculos de sol, roupas, tudo mais em conta. É absurdo. Um país altamente consumista onde as compras são supervalorizadas devido à desvalorização do preço. Não é que eles desvalorizem, é que eles não exaltam como nós.
Aqui não passamos frio quando estamos num ambiente fechado. Tudo é aquecido. Porém há árduas conseqüências: o ar é altamente seco. Uma devido ao fato de que trabalhamos no mais alto das montanhas. Outra é que quando não estamos em Snowbasin, estamos num ambiente onde o ar fica seco devido ao aquecedor. O nariz arde e de muitas pessoas sangra todos os dias. Segundo a Gabe, o sangue coagula e não escorre mais depois de um tempo. Eca! Para uma hipocondríaca que trouxe consigo uma semifarmácia, estou a beira da loucura por ter esquecido meu Sorine.
Quem tiver interesse em mandar cartas, moro na 2433 Adams Ave. Zip Code: 84401
Fica a dica de ver o site da Estação de Esqui e confirmar minhas verdades aqui ditas.
Beijos, vou dormir. A diferença de horário deixou-me cansada (5 horas de diferença).
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